Opinião

Ana Correia de Oliveira: Intervenção terapêutica no doente hipertenso com fatores de risco associados

A propósito do Dia Mundial do Coração, recuperamos a experiência de Ana Correia de Oliveira, especialista em Medicina Geral e Familiar e coordenadora da USF Cedofeita, na gestão da hipertensão, ilustrada através de um caso clínico da sua prática clínica, demonstrativo da intervenção terapêutica adequada ao doente hipertenso, com fatores de risco associados. Este é um artigo inserido na edição 134 do Jornal Médico.

O doente descrito no primeiro caso trata-se um fumador de 62 anos, medicado com losartan e hidroclorotiazida 100/25 mg. Quando se apresentou na consulta programada de hipertensão o doente registava uma pressão arterial de 152/85 mmHg, uma frequência cardíaca de 78 bpm e um índice de massa corporal (IMC)= 30.46 kg/m2, com aumento de peso durante a pandemia. O estudo analítico revelou uma hemoglobina=14.4 g/100ml, glicose=86 mg/dl, uma função hepática normal, creatinina=0,85mg/dl, um colesterol LDL de 98,6mg/dl e uma microalbuminúria em amostra de urina o risco CV, sendo privilegiada a dieta mediterrânea e a redução do consumo de sal, restringindo-o a um máximo de cinco gramas diários”, afirma.

“Para um adequado controlo da hipertensão arterial as guidelines recomendam a Auto-Medição da Pressão Arterial (AMPA), quando a Monitorização Ambulatória da Pressão Arterial (MAPA) não for viável. A AMPA deve ser feita pelo menos durante três- -quatro dias, mas preferencialmente durante sete dias consecutivos, em dois períodos do dia: duas medições de manhã e outras duas ao final do dia, com um intervalo de um a dois minutos entre elas. É importante que o aparelho esteja calibrado e sugere-se que tenha memória para avaliar a evolução da pressão ao longo do tempo”, acrescentou.

Neste caso clínico, a média das medições por AMPA foi de 148/82 mmHg, o que indicou que o doente não se encontrava controlado, justificando por isso uma intervenção terapêutica. Esta foi então decidida segundo as evidências e os critérios da melhor prática clínica, nomeadamente: a importância de definir o valor alvo da pressão arterial a alcançar com a respetiva terapêutica e o uso precoce de associações terapêuticas fixas e eficazes em primeira linha com evidência demonstrada e que aumentem a adesão terapêutica. “Ao consultar as guidelines, que foram concebidas a partir das melhores evidências disponíveis, recomenda-se como primeira linha terapêutica uma associação dupla à base de um Inibidor da enzima de conversão da angiotensina (IECA) ou antagonista do recetor da angiotensina II (ARA II) associado a um bloqueador dos canais de cálcio ou diurético”, referiu.

Quanto à escolha entre IECA ou ARA II, o estudo ASCOT revelou benefícios no uso da associação do perindopril com amlodipina na redução da mortalidade CV e mortalidade total. Quanto à escolha do diurético, Ana Correia de Oliveira manifesta preferência por diuréticos thiazide-like, como a indapamida, devido à redução de eventos CV e mortalidade que esta classe confere. Assim, foi escolhida a associação perindopril/amlo[1]dipina/indapamida que, segundo as evidências, demonstrou o controlo da pressão arterial ao fim de quatro meses após o início da terapêutica. Com efeito, foi precisamente isto que se verificou no doente descrito, cuja pressão baixou para 128/74mmHg logo ao fim de três meses.