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Prótese valvular feita à medida do coração implantada pela primeira vez em Portugal

Uma equipa do Hospital CUF Tejo realizou, pela primeira vez em Portugal, a substituição da válvula cardíaca tricúspide por uma prótese feita à medida exata do coração do doente, através de cateterismo cardíaco, um procedimento minimamente invasivo.

“Esta é a primeira vez que se faz no nosso país a substituição de uma válvula tricúspide completamente personalizada por via percutânea”, indicam os cardiologistas da CUF Ruben Ramos e Duarte Cacela, que lideraram a equipa que procedeu a esta intervenção.

A prótese valvular foi construída após um estudo detalhado do coração do doente que necessitava desta intervenção. “A realização de um AngioTAC, prévio, permitiu estudar minuciosamente os detalhes anatómicos do coração do doente, efetuando-se medições muito precisas das estruturas cardíacas, permitindo desenhar uma prótese única, customizada e adaptada especificamente ao coração deste doente”, explica Ruben Ramos. O processo de construção da prótese demorou cerca de 8 semanas e foi realizado na Alemanha.

“A válvula tricúspide é apelidada, no meio médico, como a válvula esquecida porque, habitualmente, é a menos intervencionada”, refere Ruben Ramos, justificando este facto, por durante “muitos anos, se ter julgado que a válvula tricúspide era um mero espectador de outras patologias cardíacas, valvulares ou não. Contudo, e sobretudo na última década, provou-se que a insuficiência valvular tricúspide é um importante preditor de mortalidade nas pessoas com doenças das válvulas mitral e aórtica (as doenças valvulares mais comuns) e nas doenças do músculo cardíaco, o miocárdio”.

Por outro lado, Duarte Cacela refere que “os sintomas de insuficiência tricúspide são mais insidiosos no seu aparecimento, levando a um diagnóstico tardio. Acresce, ainda, o facto de a insuficiência tricúspide estar, frequentemente, associada a doença concomitante de outras válvulas ou estruturas cardíacas, cujas manifestações são mais agudas ou exuberantes e que acabam, assim, por receber uma maior atenção médica; e, ainda, o facto de haver um insuficiente aperfeiçoamento das ferramentas de diagnóstico disponíveis para avaliação das estruturas do lado direito coração”.

Ruben Ramos, justifica que “os resultados da cirurgia convencional na válvula tricúspide parecem ser menos bons que os das outras válvulas e o próprio risco cirúrgico, em doentes frequentemente muito frágeis e com múltiplas comorbilidades, pode ser muito alto ou até proibitivo”, destacando que “esta última barreira está agora a ser ultrapassada através desta técnica de substituição valvular totalmente percutânea”.

Por último, Duarte Cacela refere que o procedimento realizado “permite oferecer aos doentes portugueses o que de mais avançado e inovador existe a nível mundial, constituindo em Portugal um avanço no tratamento dos doentes com insuficiência tricúspide, melhorando a sua qualidade de vida”.

Estima-se que mais de 85% da população tenha algum grau de insuficiência tricúspide. A progressão da doença é influenciada pela idade e género. Em pessoas com mais de 70 anos a prevalência da doença tricúspide moderada e grave atinge cerca de 1,5% nos homens e 5,6% nas mulheres.